Até dois anos a visão da criança se desenvolve 90% e necessita de acompanhamento de uma especialista
Existem diversos testes de visão que podem ser aplicados tanto em bebês quanto em crianças. É o que explica o oftalmologista pediátrico Arthur Limongi, acrescentando que a visão se desenvolve 90% durante os dois primeiros anos de vida e que é durante esta fase que a criança aprende a fi xar, a movimentar os olhos de maneira conjunta e a perceber profundidade. “Toda e qualquer alteração durante esta fase que não tenha sido corrigida pode acarretar prejuízos na visão para o resto da vida”, afi rma. “A visão é o mais importante sentido do ser humano, por meio dela recebemos mais de 80% das informações do meio ambiente a integridade visual é importante para que o desenvolvimento
da criança aconteça de maneira adequada”, completa.
Além disso, continua ele, o desenvolvimento motor da criança durante o primeiro ano de vida é diretamente relacionado à sua capacidade visual. “O que muitas vezes parece ser um atraso de desenvolvimento pode, na verdade, ser deficiência visual, facilmente diagnosticada e, na maioria
das vezes, tratada. Os outros 10% do desenvolvimento visual ocorrem até 7-9 anos de idade”, completa. Segundo Limongi, na maioria dos serviços de neonatologia do país, os olhos dos recém-nascidos ainda não são adequadamente examinados. “Como resultado, mais de 50% dos recém-nascidos só tem a alteração descoberta quando estão cegos ou quase cegos”, declara, esclarecendo que o retinoblastoma, tumor maligno que tem o pico de incidência em torno de 18 meses de idade, no Brasil é diagnosticado tardiamente em 60% dos casos, quando já não é possível salvar o olho e algumas vezes até a vida da criança.
ERROS DE REFRAÇÃO
É chamado de olho preguiçoso quando um dos olhos tem algum problema que difi culte a
visão – como um grau elevado para óculos em um dos olhos com o outro quase normal. “O
nome correto para este problema é ambliopia. É necessário tratamento com óculos e estimulação
para que o olho com o problema se desenvolva. Muitas vezes é necessário usar um curativo oclusivo
no ‘olho bom’ algumas horas por dia, para que a criança aprenda a usar o ‘olho mais fraco’. Quanto
mais precoce o tratamento melhor o resultado”, informa Arthur Limongi.
A hipermetropia é um erro de refração bastante comum, que faz com que as imagens entrem em foco atrás da retina – que é a parte do olho que capta a visão. Nesse caso, de acordo com Limongi, o
olho precisa ‘trabalhar’ para colocar os objetos em foco, mudando o formato do cristalino, que é uma lente presente no interior do olho. “Toda criança é um pouquinho hipermétrope, pois o olho
ainda não acabou de crescer. Portanto, a hipermetropia tende a diminuir. Quando a hipermetropia é maior do que a esperada para a faixa etária, surgem os sintomas: difi culdade na visão de perto, dor de cabeça, cansaço, desinteresse e falta de concentração nas atividades de perto”, enumera o oftalmologista. “Às vezes é até confundida com défi cit de atenção”, alerta.
No caso de miopia, as imagens entram em foco antes da retina. “O olho não consegue colocar as imagens em foco, pois teria que relaxar a acomodação, e o cristalino já está totalmente
‘relaxado’. Por isso o míope é mais dependente dos óculos, porque tem difi culdade para ver de longe, pode apresentar difi culdades na escola e ter necessidade de ver TV de perto”, esclarece Limongi, dizendo ainda que a miopia tende a aumentar com o crescimento dos globos oculares e costuma estabilizar somente em torno de 19-21 anos de idade. Já o astigmatismo, um erro de refração causado por alteração na curvatura da córnea, ocasiona falta de nitidez dos contrastes entre as linhas
horizontais, verticais e oblíquas. “O astigmatismo tende a não se alterar muito com o crescimento dos globos oculares, mas causa dificuldade para longe e perto, dor de cabeça, cansaço, falta de concentração, troca de letras, dificuldade em seguir uma linha de um texto e a necessidade de ver TV de perto”, frisa o médico.
Exames desde o nascimento
PREMATURO
O prematuro que nasce com menos de 1500 e/ ou 32 semanas e os que nascem entre 1500 e 2000 g
se permaneceram no oxigênio por mais de 30 dias e/ ou tiveram septicemia ou convulsão, apresentam risco maior de desenvolver retinopatia da prematuridade que é uma importante causa de cegueira infantil. O primeiro exame de mapeamento da retina deve ser feito entre a 4ª e 6ª semana de vida e deve ser repetido até a completa vascularização da retina, por volta de 42 semanas.
A periodicidade do exame, assim como o tratamento, dependerá do estágio da doença.
TESTE DO OLHINHO
Todo bebê antes da alta da maternidade deve ser submetido ao Teste do Olhinho. Por meio dele é possível detectar precocemente várias doenças oculares, principalmente as que precisam de tratamento urgente como a catarata congênita (segunda causa de cegueira infantil) e o retinoblastoma (tumor mais frequente da infância), que, quando diagnosticado precocemente, salva uma vida.
O exame deve ser feito pelo oftalmologista ou pediatra nos primeiros 30 dias de vida e deverá ser repetido, durante toda a infância, em toda consulta oftalmológica. É realizado com oftalmoscópio direto. O teste é simples, rápido e indolor. Qualquer suspeita de anormalidade; refl exo alterado ou ausente, a criança deve ser submetida a um exame com oftalmologista especializado, que inclui o mapeamento da retina.
IDADE PRÉ-ESCOLAR
Na idade pré-escolar é importante o exame anual para medida da acuidade visual que é realizada com tabelas especiais de acordo com cada faixa etária para diagnóstico precoce da ambliopia, importante causa de deficiência visual de um ou ambos os olhos. Tem como principais fatores: erro de refração não corrigido (miopia, astigmatismo ou hipermetropia), estrabismo (olho torto) e a menos frequente, porém mais grave, a ambliopia de privação, a causada por catarata congênita e ptose (pálpebra caída).
IDADE ESCOLAR
O exame em crianças sem anormalidades deve ser anual para acompanhar a acuidade visual e diagnóstico precoce de outras doenças oculares. Em crianças com problemas oculares a conduta será avaliada para caso.
Revista Oftalmologia em Goiás, agosto de 2011.